Você já deve ter percebido que o tema “Prevenção a Fraudes” está cada dia mais presente em nossas vidas e os exemplos são muitos: de comerciais em horário nobre na TV com campanhas de conscientização a histórias que remetem ao nosso ciclo pessoal, com pessoas conhecidas e que sofreram ou foram abordadas por fraudadores. Mas qual a explicação por trás de toda essa “onda”?
Para começar, é bom entendermos que a história das fraudes financeiras no Brasil remonta às primeiras transações comerciais e bancárias. Desde os tempos coloniais os fraudadores têm se adaptado às mudanças comportamentais e nas práticas bancárias para explorar vulnerabilidades e obter ganhos ilícitos. No entanto, foi com o avanço da tecnologia, especialmente com a popularização da internet e dos serviços bancários online, que as fraudes financeiras atingiram novos patamares.
Se refletirmos como era nossa vida financeira e de consumo há cerca de 10 ou 15 anos atras, provavelmente nos lembraremos que contratos eram assinados com papel e caneta, transações bancárias quando muito se efetuavam por internet banking, mas a prática era mesmo ir até uma agência e falar com o seu gerente (que você até sabia quem era pelo nome). Bem, se as transações eram feitas por papel e presencialmente as fraudes também fluíam dessa forma, o espaço para técnicas de prevenção se baseavam em comparações grafoscópicas (padrões de assinatura), análise de veracidade de um documento de identificação e por aí vai… ou ia… porque esse mundo já parece distante atualmente. Com o advento da internet, as fraudes financeiras ganharam novas dimensões. Fighting, skimming, clonagem de cartões, roubo de identidade e outros métodos se tornaram comuns, os fraudadores exploram a falta de conscientização e a vulnerabilidade dos usuários, muitas vezes utilizando técnicas sofisticadas para enganar as pessoas e acessar suas informações financeiras. Além disso, a proliferação de dispositivos móveis e aplicativos com os mais diversos fins, proporcionou aos fraudadores novas oportunidades de ataque (um brinde a digitalização!). Malwares móveis, aplicativos falsos e ataques de engenharia social se tornaram uma preocupação crescente para os consumidores e empresas.
Um novo inimigo, requer uma nova arma (ou um novo conjunto delas), as fraudes se tornaram mais inventivas, mais audaciosas e os volumes mais massivos, fraudadores que sempre foram mestres do quesito adaptabilidade, continuam dando aula aqui, se as compras são feitas agora por meio eletrônico, não é mais preciso que os criminosos tenham acesso ao cartão de crédito físico, basta que tenham os dados para conseguirem êxito, só para citar um exemplo.
Cenário de caos: milhões de pessoas com acesso a crédito e poder de consumo a um clique em seus inseparáveis dispositivos móveis e em igual proporção ataques dos mais variados tipos e níveis de engenhosidade, nesse solo crescem os casos de golpe, o número de vítimas e as promessas de solução por empresas que se posicionam na linha do contragolpe. Aqui já se vai ao longe a dependência de técnicas manuais de avaliação antifraude e o que vemos é um mundo de tecnologias despontando e disputando a atenção das empresas que tentam proteger seus clientes…, mas afinal, qual a melhor combinação, abordagem, conjunto tecnológico para se proteger? A resposta? “Depende!”.
O fato é que não há, nem deve haver, uma única solução técnica capaz de nos proteger em definitivo, pelo simples fato que esse meio é um organismo vivo, mutável e adaptável. Se há 10 anos atrás pouquíssimas corporações adotavam a tão falada biometria facial como forma de proteção da identidade dos clientes, hoje essa – que é quase uma unanimidade entre os conjuntos de soluções adotados – se vê diante de um grande impasse, com a chegada das técnicas de inteligência artificiais generativas (que conseguem criar imagens e vídeos hiper-realistas até mesmo por quem não entende quase nada de técnicas de programação ou manipulação de imagens), assim, são postas a prova, após terem sido abraçadas por todo o mercado como a solução de todos os problemas (spoiler: não é!). A reflexão aqui é que esse livro está longe do final, a chegada das técnicas de IA, novas formas de consumo, são páginas sendo escritas em tempo real, e não há nada que se conheça e que possamos adotar para acelerar o capítulo final dessa história, o que precisamos é aprender com o inimigo, a palavra de ordem é adaptabilidade também na adoção de técnicas e formação de ecossistemas de prevenção pelas empresas, ainda não sabemos onde a IA vai nos levar, mas estamos presenciando um grande arco sendo escrito bem diante dos nossos olhos, não nos cabe decidir se vamos ou não participar da chegada da IA ao mundo, mas sim, qual o papel que interpretaremos nessa chegada.
Portanto a conclusão é de não importa o nível de maturidade do arcabouço de segurança e proteção, sua empresa precisa pensar em como se tornar mais flexível às mudanças (que é a única certeza que temos), estar atenta aos desafios e oportunidades de mercado e perseguir o estado da arte em termos de capacidade de adaptação. Agora, se você é um profissional de prevenção, torne-se analítico, dispa-se de certezas, abrace o desconhecido e se permita admitir que também não sabe o que vai acontecer ao certo a seguir, e que essa é exatamente sua melhor arma.